11/24/2016

Figurino, objetos de cena e brinquedos sensoriais



Por Julieta Zarza



O processo de criação do figurino do Amana começou norteado principalmente pelo conforto. Queríamos uma roupa que parecesse roupa, mais do que figurino, queríamos que fosse fácil de cuidar (na prática nem foi tanto, pois precisa ser passado á cada apresentação), confortável para dançar, para estar nas creches. Ponderamos também a individualidade, o que cada uma queria e gostava de vestir.
Desejávamos inspirar as mamães a usarem roupas confortáveis para poder brincar e ter o corpo mais disponível para “ estar“ com seus bebês. De alguma maneira queríamos transmitir que estar confortável não é necessariamente estar largada com roupa cinza de malhar, pode ser bem estiloso e nos ajudar no bem estar.
Os elementos da natureza presentes na nossa dramaturgia, nos levaram a uma paleta de cores que traziam água, terra, pele e sangue. Preferimos  para tudo materiais orgânicos, “nobres” .
O nosso material principal  foi o nosso corpo e o figurino foi se tornando um objeto de cena. Experimentando muitas peças de roupas, encontramos desde o primeiro momento um casaco que virava coisas, que virou nossa peça chave. Agradou muito ao nosso diretor, eu também gostava muito da ideia de transformação em cena.
Sabendo que o espetáculo iria para as creches, sabíamos que deveríamos lidar com coisas simples; que pudéssemos carregar e montar sozinhas; que não teríamos cenário, luzes e nem coxias  para sair e trocar de roupa, então o desafio era como  gerar mudanças na composição visual.
Estes casacos de tons neutros e forro em tons de azul, deu o elemento lúdico e cromático que procurávamos. Conseguimos começar com uma paleta mais neutra, que aos poucos vai revelando cor e finalmente ,quando retirado, revela o figurino com a paleta final.
Não foi fácil, tivemos que tomar decisões muito rápidas e lidar com os poucos materiais que encontramos no Plano e em Taguatinga. Não achei o tom de rosa que tínhamos escolhido e sim um rosinha “ baby Class” como Katiane o chamou... e isto derivou numa discussão enorme. Quando o figurino ficou pronto o coitado do rosinha foi muito rejeitado, mas finalmente aceitamos ele e estamos todas felizes com o resultado final.
Materiais Nobres
Todos os instrumentos e objetos de cena são de materiais nobres, o Método Montessori  (leia mais no https://larmontessori.com/) sustenta que devíamos evitar plástico, pois os bebês precisam conhecer o mundo e os elementos da natureza,  por isso é importante colocá-los em contato com vidro, madeira, metal, papel, tecido pedra. A maioria dos brinquedos  industrializados são de plástico, mudam de cor, tamanho e forma, mas é sempre a mesma textura. Eu sou apaixonada pelo método Montessori desde que minha filha nasceu, então isto tem norteado muito minhas escolhas na hora de desenvolver material para os bebês. Nestas questões o diálogo com Susana, como orientadora pedagógica, foi fundamental.
Temos água em moringa de cerâmica, tambor de couro e madeira, violão, calimba ... mas não teve jeito, alguns elementos fugiram desta escolha, como a escaleta e o piso de EVA, pois sendo itinerantes precisávamos de um piso itinerante onde dançar e que fosse limpo, quentinho e fofo onde os bebês pudessem dançar conosco.
O EVA nos dificulta muito os movimentos na parte do contato improvisação pois ele não desliza, mas é realmente muito prático para nosso deslocamento, embora seja extremamente sintético…

Brinquedos sensoriais,
Quando eu já achava que o trabalho tinha acabado tivemos a ideia de incluir brinquedos sensoriais e uns tapetes sensoriais para o momento da recepção dos bebês e seus acompanhantes. Isto foi extremamente estimulante, porque gosto demais de colocar mão na massa na construção artesanal.
Receptivo sensível e sensorial.
Para sair de casa com bebês precisa- se de coragem e muita energia, quando vamos a um teatro convencional, mesmo sendo para crianças, precisamos encarar filas, esperas e é difícil cuidar do bebê, amamentar, trocar fraldinha etc.
Por isso é que nosso desafio maior é conseguir atender estas necessidades de conforto em espaços onde ainda não relevam estas condições.
Nosso receptivo então pretende sempre caprichar nesses quesitos. Que os bebês cheguem em um lugar onde possam sentar, deitar e engatinhar com segurança, que as mamães possam amamentar tranquilas, que tenham água e alguma comidinha para qualquer emergência.
Sensibilizar,
pedimos aos acompanhantes para tirar o sapatinho dos bebês e de si próprios.
Criamos tapetes cheios de texturas como feltro, palha , lã , tecido, madeira, couro, sementes, por onde os bebês engatinham, sentam rolam ou deitam à vontade ...
também oferecemos cestinhas com alguns brinquedos que seguem estas premisas,
bolas de feltro, envelopinhos de feltro com sementes sonoras, diferentes sementes sonoras pintadas, argolas de madeira, e as colheres de pau.
Desta forma os bebês aguardam sem estresse, socializam entre eles e com a gente do elenco e se sensibilizam para assistir o espetáculo e os pais também.







Fotos Debora Amorin e Celular da Julieta